O jogador de futebol encarna nos dias de hoje o estereótipo de algumas mulheres modernas: há um carinho e respeito pelo primeiro homem, quem lhe ensinou os primeiros passos, deu as primeiras aulas diante e longe da sociedade, mas inexiste a preocupação com a fidelidade de outrora; há que se aproveitar o que a vida lhe oferece, os prazeres que a abundância de dinheiro gera.
Pois o mercado europeu voltou a promover em maior escala essa promiscuidade consentida neste ano. Depois de uma janela de cifras tímidas na temporada passada, os milhões de euros voltaram a transitar no destino contrário às mercadorias que compram. Real Madrid, como já comentado aqui na semana passada, é o epicentro destas movimentações frenéticas. Mas Manchester United, que perdeu Cristiano Ronaldo, e Juventus, equipe que tradicionalmente faz aquisições pontuais e ruminadas, também desembolsaram alguns milhões de notas. Nesta semana, análises das perspectivas dos grandes clubes espanhois e italianos para o calendário que se inicia em agosto.
Espanha
O futebol espanhol acena com a repetição do protagonismo que exerceu na Europa na temporada passada. O Barcelona mantém a equipe que venceu a Champoions, cuja base são jogadores formados nas Canteiras catalãs, categorias de base do Barça. Há tentativas de reforçar o banco de reservas, com a contratação de Fórlan, atleta uruguaio, artilheiro por duas temporadas consecutivas da Liga, mas que esbarra na certeza de possuir uma esquadra vencedora e no alto valor pedido pelo Atlético de Madrid.
Já o Real Madrid, voltou à fórmula de Florentino Pérez, investindo em jogadores de reconhecida categoria, e admitindo que, afora Casillas e Raul, há tempos não revela um grande jogador. Diferente da primeira geração galáctica, quando obrigou os treinadores a mudarem de escalação todo ano – visto que se contratava um craque por temporada -, Florentino arrematou logo dois dos três melhores do mundo, e alguns coadjuvantes para os demais setores – medida que pode acelerar o entendimento interno e a conquista de títulos.
Itália
O Milan é quem mais perdeu nestes dois meses sem futebol de clubes europeu. Kaká era quem alçava o time de Milão ao panteão de clubes candidatos a qualquer campeonato que disputam. Sem o brasileiro, o Milan é uma equipe que recende lentidão e burocracia. Estão, por hora, amparadas sobre os pés de Pato (Rá!) e Ronaldinho Gaúcho as esperanças de Berlusconi para 2009/10. Um sintoma da insegurança dos cartolas de lá em seus novos protagonistas, é a insistência na contratação de Luis Fabiano. O que trava a negociação com o Sevilla é o preço inflacionado do atacante de indiscutível titularidade na Seleção: 14 milhões de euros.
Já a Inter, depois do quarto campeonato nacional seguido, reza, ora, faz pactos com entidades divinas, usa de todas as mandingas existentes para que volte a vencer a Liga dos Campeões, o que não faz desde antes do nascimento de todos os seus atletas. Mas José Mourinho já alertou os dirigentes que não detém poderes sobrenaturais, e munido da coragem que sua arrogância permite, exige reforços para que conquiste algo fora da Bota. Recebeu Kérlon, aquele guri que apareceu no Cruzeiro imitando foca e dependurando a bola no próprio nariz, o argentino Diego Milito e o português e genérico de Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma. Ou seja: adornos insuficientes para ambições maiores.
Mas é uma senhora experiente que deve voltar a se adonar de troféus nacionais este ano. A Juventus retomou no Calcio passado o seu lugar entre os três melhores times do país. Mas penou com a limitação do elenco e o cansaço de jogadores em fase crepuscular, como Nedved. O retorno de Canavarro e a chegada de Felipe Melo devem aumentar a segurança da já sólida defesa de Turin. Porém, é na figura de Diego que se pretende resgatar, junto de Del Piero e Amauri, aquele jogo de contra-ataques mortais e ágeis, filho de um futebol pragmático e vitorioso. Os mesmo contra-ataques que no começo dos anos 90 eram feitos por Baggio, Ravanelli e Viali e, já na segunda metade daquela década, orquestrados por Zidane, o ainda jovem Del Piero e Filippo Inzaghi: os dois últimos grandes momentos da Vecchia Signora no cenário europeu.
Guilherme