Aproveitando que as principais ligas do velho continente seguem imóveis – no que diz respeito à bola rolando, pois as contas bancárias e transações… –, continuamos falando do maior evento futebolístico da Terra, apenas um pouquinho abaixo da Segundona do Catarinense, da Copa Renner e da Taça Emídio Perondi.
Sou apenas “uma criança e não entendo nada” (CARLOS, Erasmo) que viu 4 Copas até hoje, as últimas. Para muitos cronistas clássicos e românticos (Fernando Calazans, Tostão, Juca Kfouri, José Trajano, Renato Maurício Prado…), foram sem sombra de dúvidas as piores da história. Nível técnico beirando zero, poucos gols e seleções mais preocupadas em não perder do que ganhar. Até entendo que o futebol tenha mudado, e em muitos aspectos para pior, mas sou adepto da tese defendida pelo Oráculo Paulo Vinicius Coelho: em toda Copa , desde 30, existiram jogos épicos, sofríveis, espetaculares, regulares… Enfim, jogos ótimos e ruins. O que muda é a maneira como tu te envolves com a história.
Com 8 anos de idade, de férias da prisão escolar, aproveitando um friozinho esperto de junho/julho, olhando TODOS os jogos durante a tarde, tomando “achocolatado” (Nescau e Nestlé, combinamos o post patrocinado outra hora!) e colecionando as figurinhas num álbum novinho em folha, QUALQUER COPA é especial! Com 40 anos no lombo, tendo que pedir encarecidamente para o chefe escravocrata liberar do expediente 15 minutos antes do jogo de estréia do Brasil, e depois do jogo ter que VOLTAR para trabalhar, nenhuma Copa do Mundo vai ser emocionante.
Dito isso, elenco a seguir 5 dos jogos mais MEMORÁVEIS (não necessariamente os melhores) que vi em Mundiais. A escolha é difícil, muitos jogos que estão vivos na mente ficaram de fora, mas decidi escolher um jogo de cada Copa e um de “bônus”.
5º – Portugal 1 X 0 Holanda – Copa da Alemanha, 2006, oitavas de final.
(Dia 25 de junho, no estádio Frankestadion, em Nurenberg)
Uma batalha. Um jogo no qual o FAIR PLAY levou uma voadora pelas costas. Novo recorde de expulsões em um jogo de Copa, quatro. Além de 16 amarelos. Felipão conseguiu arranjar briga até com Van Basten! Apesar do nível de pancadaria ser exagerado para um mundial (parecia um Bra-Pel com grife), foi um jogo extremamente tenso e emocionante. Felipão deve ter achado tudo normal…
Portugal: Ricardo, Miguel, Fernando Meira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente, Costinha, Maniche (GOL), Luís Figo (Tiago), Deco, Cristiano Ronaldo (Simão Sabrosa) e Pauleta (Petit). Técnico: Luis Felipe Scolari.
Holanda: Edwin van der Sar, Khalid Boulahrouz, Joris Mathijsen (Rafael van der Vaart), Giovanni van Bronckhorst, Dirk Kuyt, Phillip Cocu (Jan Hesselink) , Arjen Robben, Andre Ooijer, Robin van Persie, Mark van Bommel (John Heitinga) e Wesley Sneijder. Técnico: Marco Van Basten.
4º – Senegal 1 x 0 França – Copa da Coréia e do Japão, 2002, primeira fase.
(Dia 31 de maio de 2002, no estádio Seoul World Cup Stadium, em Seoul).
Primeiro jogo, primeira zebra. Do tamanho do continente africano! A Copa do Japão e da Coréia foi triste de acompanhar, em decorrência da diferença de 12 horas no fuso horário! Que o diga Sérgio Noronha
Este jogo foi às 7 da manhã, portanto fácil de ver. A França era a atual campeã, favorita disparada em seu grupo (e para o título). E ainda pegaria um estreante em copas, vindo das eliminatórias africanas. Páreo corrido. Depois dessa derrota os gauleses empataram dois jogos sem gols e os senegaleses foram a grande surpresa de 2002, chegando até as quartas de finais.
Senegal: Sylva; Daf, Diatta, Cissé, Coly; Malick Diop, Fadiga, Diao, Bouba Diop (GOL) e Ndiaye; Diouf.
França: Barthez; Thuram, Leboeuf, Desailly, Lizarazu; Vieira, Petit e Djorkaeff (Dugarry); Wiltord (Cisse), Trezeguet e Henry.
3º – Argentina 2 x 2 Inglaterra (Pênaltis 4 x 3 Argentina) – Copa da França, 1998, oitavas de final.
(Dia 30 de junho de 1998, no estádio Geoffroy Guichard, em Saint-Étienne).
Disparado o melhor jogo da Copa da França, seguido de perto pela virada dos Bleus na semifinal, contra a Croácia, com dois gols de Thuram. Argentina e Inglaterra, principalmente depois da Guerra das Malvinas, sempre é um jogo nervoso. Em 86 e 90 (e depois de 98 mais um jogo, pela primeira fase em 2002) os embates já haviam sido históricos, mas este teve de tudo. De golaço do piá Owen a tentativa de assassinato de Southgate, com uma tesoura por trás em Simeone. E este já havia até cuspido na cara de um britânico.
Depois de uma prorrogação muito tensa, as famigeradas penalidades máximas. Mas as duas seleções mereciam seguir adiante no torneio. Crespo e Ince perderam, e Roa defendeu a última cobrança inglesa. Argentina nas quartas, onde travaria outro duelo histórico, desta vez perdendo por 2 a 1 para a Holanda, com um golaço de Dennis Bergkamp.
Argentina: Roa, Vivas, Ayala e Chamot; Zanetti (GOL), Almeyda, Simeone (Berti), Verón e Ortega; Batistuta (GOL) (Crespo) e Claudio López (Gallardo). Técnico: Daniel Passarella.
Inglaterra: Seaman; G. Neville, Adams e Campbell ; Anderton (Batty), Ince, Scholes (Merson), Le Saux ( Southgate ) e Beckham; Owen (GOL) e Shearer (GOL). Técnico: Glenn Hoddle.
2º – Alemanha 0 x 2 Itália – Copa da Alemanha, 2006, semifinal.
(Dia 4 de julho de 2006, no Westfalenstadion, em Dortmund).
Uma semifinal envolvendo dois times tri campeões mundiais, na casa de um deles. Dizer que foi um jogo nervoso é chover no molhado. A Alemanha havia eliminado a Argentina uma fase antes nos pênaltis e chegava com moral elevado. A Itália vinha aos trancos e barrancos durante toda competição, como quase sempre acontece com a Squadra Azzurra.
Se os dois selecionados tinham chegado desacreditados para a Copa, agora isso era passado. No tempo normal nada de gols, mas os donos da casa pressionavam. O jogo era muito bom, mas ninguém se permitia a possibilidade do erro. Aos 118 minutos de jogo, Pirlo com um passe magistral encontra Grosso na área. O lateral pega de primeira um “canhotaço de esquerda”, como dizia Januário de Oliveira, e cala um país inteiro. Dois minutos depois Del Piero aproveita o desespero alemão e decreta o fim do sonho germânico. E a Squadra seguia rumo ao tetra.
Alemanha: Lehman; Friedrich, Metzelder, Mertesacker; Lahm, Schneider (Odonkor), Ballack, Kehl, Borowski (Schweinsteiger); Klose (Neuville) e Podolski. Técnico: Jürgen Klinsmann.
Itália: Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Materazzi e Grosso (GOL); Gattuso, Perrotta (Del Piero GOL), Pirlo e Camoranesi (Iaquinta); Totti e Luca Toni (Gilardino). Técnico: Marcelo Lippi.
1º – Brasil 3 x 2 Holanda – Copa dos Estados Unidos, 1994, quartas de final.
(Dia 09 de julho de 1994, no estádio Cotton Bowl, em Dallas).
Note a quantidade de jogadores muito acima da média em campo neste jogo: Taffarel, Raí, Bebeto, Romário, Rijkaard, Koeman, Overmars e Bergkamp. Pelo menos dois desses são CRAQUES. 5 gols em um tempo, com jogadas polêmicas, marcação forte, gols bonitos… Tudo que um jogo de Copa clássico tem que ter, e foi no “fraco” Mundial dos Estados Unidos!
O Brasil ainda venceria a Suécia pelo placar mínimo (cabeçada desafiadora das leis da gravidade do Baixinho) e faria a final com a Itália. E o final todo mundo conhece…
Brasil: Taffarel; Jorginho, Márcio Santos, Aldair e Branco (GOL) (Cafu); Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto (GOL) e Romário (GOL). Técnico: Carlos Alberto Parreira.
Holanda: Ed de Goey; Frank Rijkaard (Ronald de Boer), Ronald Koeman, Stan Valckx, Rob Witschge; Jan Wouters, Wim Jonk, Aron Winter (GOL); Overmars, Bergkamp (GOL), Peter van Vossen (Bryan Roy). Técnico: Dick Advocaat.
Para saber mais
http://selecaoargentina.blogspot.com
www.zerozero.pt
http://esportes.terra.com.br/futebol/copa2006
Felipe Conti é colorado, gaúcho, canoense, goleiro, esquerdista, aspirante a jornalista. Nascido para ser do contra, desde março de 86. Escreve costumeiramente no Grenalzinto e é titular das sextas aqui do Tisserand.
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