Numa rodada de empates em abundância, pênaltis desperdiçados aos montes e mudanças comedidas na tabela de classificação do Brasileiro, Inter e Grêmio bem que poderiam ajoelhar diante do altar pagão onde residem os exus que regem os destinos do futebol e agradecer pela igualdade tardia reconciliada aos trancos no Olímpico, pela manutenção da invencibilidade longe do pago fiada nas defesas de Muriel no Couto Pereira. Ocorre que são apenas 13 pontos amealhados nos 10 jogos da Dupla, o que distancia ambos dos sonhos de cifras opulentas que o título e a vaga à Libertadores inclinam.
O torcedor do Grêmio já não espera um grande jogo de seu time, nada daquelas tabelas envolventes que o São Paulo proporciona, tampouco os dribles circenses reinventados pelos santistas. Não. O gremista encaminha-se ao Olímpico e carrega nas mãos ainda ensebadas da costela – cujo sabor inigualável forçou-o a perscrutar até o último pedaço de carne alojado no osso – um radinho ou mp3, 4, 5, 6… de onde espera ouvir apenas a certeza de que há chances de forçar a barra, empurrar o adversário para sua área, vencer na marra.
A tarde de ontem novamente obrigou o gremista a ensebar os cabelos nas muitas vezes que lamentou os erros, no gol fantasmagórico de Bernardo, no pênalti desperdiçado por Gabriel, nas incongruências ofensivas cuja quantidade não recomendam otimismo em saná-las, nem mesmo na chegada iminente de Gilberto Silva, Andre Lima, Miralles.
Resta ao gremista voltar pra casa aliviado com o gol de empate marcado por Roberson, uma esperança de que ao menos uma promessa ofensiva vingue, transformar as sobras da costela num carreteiro macanudo e adormecer nos braços inóspitos e obscuros do Domingo Maior ou do Dr. Ray, digerindo a janta feito quem abre uma cova com colher de chá ou quebra um muro de Berlim a socos: na lenta dignidade que toda ignorância teimosa encarna.
Já o Inter tem aos menos uma novidade a comemorar. Diante da falta de sofisticação e pouca habilidade em vender o próprio talento de Lauro e da insegurança crônica de Renan, Muriel parece em condições de envergar a 1 colorada. Defendeu como um condenado à pena capital cujo perdão dependesse de não deixar que sua meta fosse maculada. Seria morto, caso isso fosse verdade, haja vista o gol de David. Nada, porém, que diminua uma atuação impecável.
Aliás, até Edson Bastos, o boneco de posto que os torcedores do Coritiba chamam de goleiro, fez boa partida ontem, confirmando ser mesmo uma tarde de arqueiros. O jogo foi igual, chances para os dois lados, dois ataques técnicos envolvendo defesas precárias.
Depois do gol de Gleidson, um improvável gol de Gleidson, chute a la Dinho do meio da rua, faltou culhão aos colorados e sobretudo ao seu treinador, para ampliar um marcador favorável. Pelas atuações esforçdas, pelas defesas de Edson, de Muriel, pela limitação técnica do Coxa e pelo medo de Falcão, o empate prevaleceu com ares de presidente aprovado em pesquisas confiáveis pela população.
Tabela e classificação aqui.
Guilherme Lessa Bica