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Divorciados

Divorciados

 

Depois de uma pequena temporada na atmosfera bucólica e ventosa de Arambaré, entre coqueteis etílicos e necessárias conversas infames, regresso às margens da Capital de todos os gaúchos com uma notícia frustrante, uma outra alentadora e uma terceira preocupante. O Grêmio encerrou seus sonhos de viajar pela América do Sul na próxima temporada ao obrigar-se a comemorar um empate caseiro com o Vitória. A Seleção, por outro lado, provocou em Maradona o nervoso ritual autofágico de comer os próprios dedos em situações adversas. E a mais dramática de todas, a que carrega consigo uma nuvem obscura e fiadora do apocalipse para todos nós gremistas: o Inter é candidato ao título brasileiro, e demonstrou isso de forma inequívoca em Santa Catarina.

 

Ocorre que não sou destes bastardos que ejaculam de balde com o falo alheio, e tampouco de outra estirpe baixa, que aproveita o momento exasperante do própprio time para enchê-lo de impropérios e, assim que uma vitória de avizinhe, embriague-se em elogios superficiais e repentinos. Não. O que me sobra, tragicamente, é ruminar pensamentos sobre o selecionado de Carlos Caetano, o Dunga, e projetar o futuro do Brasil nessas Eliminatórias já quase definidas, e a preparação para a Copa.

 

Para começar, qualquer voz descrente que não concordava com um Anão no cargo mais cobiçado entre os treinadores de todas as galáxias, teve finalmente o último vão de sua boca calado. Dunga assegurou desde seus primórdios como empregado da CBF uma defesa sólida, seja na manutenção de um losango de altura imponente mas futebol qualificado: Julio Cesar, Lúcio, Juan (Agora, Luisão) e Gilberto Silva. Perscrutou com olhos atentos os alas brasileiros espalhados pelo Mundo e pinçou dois deles para o lugar de Cafu, ambos consagrados em times da primeira linha europeia: Daniel Alves e Maicon. Deu todas as chances a Ronaldinho Gaúcho – e por claras e acertadas razões, sobretudo por representar, junto de Ronaldo Nazário, o que resta de extra classe ainda em atividade – e só desistiu dele depois do próprio resignar-se a um futebol medíocre e burocrático. E ainda achou em Kaká – embora eu e o Felipe Conti não nos conformemos com essa escolha – o jogador central e senhor dos movimentos de uma meia cancha operária e eficiente. Mas foi em Luis Fabiano, atleta de trajetória conturbada, agressões a adversários em campo, expulsões recorrentes, histórico que abreviou a vida de muitos craques na Seleção – vide Edmundo –, que Dunga encontrou o herdeiro da camisa 9, de Careca e Ronaldo, ainda que talhado com menos técnica, mas dotado da inconformidade e da convicção dos grandes goleadores. Luis Fabiano deve ter providenciado uma maracujina que outra, esquecendo as confusões campais e preocupando-se com seu labor de dominar a grande área.

 

E foi todo esse conjunto harmônico que vi, pelo telão de um boteco de Arambaré, desenvolver o futebol de marcação implacável, passes dedicados e contra-ataques mortais que fomos acostumados a torcer para desde a Copa América de 2007, foi consagrado na Copa das Confederações deste ano e amputou as últimas esperanças dos argentinos em Maradona Treinador. É preciso ressaltar a capacidade de Elano nas bolas paradas, aliás, sua titularidade também passa por isso, por ser o único especialista o grupo nessa tarefa. É preciso também destacar a recente afirmação de André Santos no flanco esquerdo – ainda que Kléber mostre alguma recuperação no Beira Rio e deva receber novas chances. É preciso ainda fazer uma ressalva sobre a heresia que é escalar como titular alguém tão pouco engajado e estéril como o Robinho. Mas esse e algum outro equívoco menor podem ser consertados até o meio do ano que vem. A certeza maior é que Dunga definitivamente conseguiu forjar-se – na chuva de críticas e fogueira abundante de vaidade que cerca seu posto – um treinador competente. E que a Seleção, a despeito de oscilações naturais e discordâncias necessárias para que a acomodação não adentre o recinto, ainda é a principal favorita ao título mundial.

 

Confere aqui a classificação das Eliminatórias e a situação periclitante dos argentinos. E aqui as três rodadas que restam.

 

Guilherme Lessa Bica

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Aproveitando que as principais ligas do velho continente seguem imóveis – no que diz respeito à bola rolando, pois as contas bancárias e transações… –, continuamos falando do maior evento futebolístico da Terra, apenas um pouquinho abaixo da Segundona do Catarinense, da Copa Renner e da Taça Emídio Perondi.

 

Sou apenas “uma criança e não entendo nada” (CARLOS, Erasmo) que viu 4 Copas até hoje, as últimas. Para muitos cronistas clássicos e românticos (Fernando Calazans, Tostão, Juca Kfouri, José Trajano, Renato Maurício Prado…), foram sem sombra de dúvidas as piores da história. Nível técnico beirando zero, poucos gols e seleções mais preocupadas em não perder do que ganhar. Até entendo que o futebol tenha mudado, e em muitos aspectos para pior, mas sou adepto da tese defendida pelo Oráculo Paulo Vinicius Coelho: em toda Copa , desde 30, existiram jogos épicos, sofríveis, espetaculares, regulares… Enfim, jogos ótimos e ruins. O que muda é a maneira como tu te envolves com a história.

 

Com 8 anos de idade, de férias da prisão escolar, aproveitando um friozinho esperto de junho/julho, olhando TODOS os jogos durante a tarde, tomando “achocolatado” (Nescau e Nestlé, combinamos o post patrocinado outra hora!) e colecionando as figurinhas num álbum novinho em folha, QUALQUER COPA é especial! Com 40 anos no lombo, tendo que pedir encarecidamente para o chefe escravocrata liberar do expediente 15 minutos antes do jogo de estréia do Brasil, e depois do jogo ter que VOLTAR para trabalhar, nenhuma Copa do Mundo vai ser emocionante.

 

Dito isso, elenco a seguir 5 dos jogos mais MEMORÁVEIS (não necessariamente os melhores) que vi em Mundiais. A escolha é difícil, muitos jogos que estão vivos na mente ficaram de fora, mas decidi escolher um jogo de cada Copa e um de “bônus”.

 

5º – Portugal 1 X 0 Holanda – Copa da Alemanha, 2006, oitavas de final.

(Dia 25 de junho, no estádio Frankestadion, em Nurenberg)

 

Uma batalha. Um jogo no qual o FAIR PLAY levou uma voadora pelas costas. Novo recorde de expulsões em um jogo de Copa, quatro. Além de 16 amarelos. Felipão conseguiu arranjar briga até com Van Basten! Apesar do nível de pancadaria ser exagerado para um mundial (parecia um Bra-Pel com grife), foi um jogo extremamente tenso e emocionante. Felipão deve ter achado tudo normal…

 

Portugal: Ricardo, Miguel, Fernando Meira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente, Costinha, Maniche (GOL), Luís Figo (Tiago), Deco, Cristiano Ronaldo (Simão Sabrosa) e Pauleta (Petit). Técnico: Luis Felipe Scolari.

 

Holanda: Edwin van der Sar, Khalid Boulahrouz, Joris Mathijsen (Rafael van der Vaart), Giovanni van Bronckhorst, Dirk Kuyt, Phillip Cocu (Jan Hesselink) , Arjen Robben, Andre Ooijer, Robin van Persie, Mark van Bommel (John Heitinga) e Wesley Sneijder. Técnico: Marco Van Basten.

 

4º – Senegal 1 x 0 França – Copa da Coréia e do Japão, 2002, primeira fase.

(Dia 31 de maio de 2002, no estádio Seoul World Cup Stadium, em Seoul).

 

Primeiro jogo, primeira zebra. Do tamanho do continente africano! A Copa do Japão e da Coréia foi triste de acompanhar, em decorrência da diferença de 12 horas no fuso horário! Que o diga Sérgio Noronha

 

Este jogo foi às 7 da manhã, portanto fácil de ver. A França era a atual campeã, favorita disparada em seu grupo (e para o título). E ainda pegaria um estreante em copas, vindo das eliminatórias africanas. Páreo corrido. Depois dessa derrota os gauleses empataram dois jogos sem gols e os senegaleses foram a grande surpresa de 2002, chegando até as quartas de finais.

 

Senegal: Sylva; Daf, Diatta, Cissé, Coly; Malick Diop, Fadiga, Diao, Bouba Diop (GOL) e Ndiaye; Diouf.

 

França: Barthez; Thuram, Leboeuf, Desailly, Lizarazu; Vieira, Petit e Djorkaeff (Dugarry); Wiltord (Cisse), Trezeguet e Henry.

 

3º – Argentina 2 x 2 Inglaterra (Pênaltis 4 x 3 Argentina) – Copa da França, 1998, oitavas de final.

(Dia 30 de junho de 1998, no estádio Geoffroy Guichard, em Saint-Étienne).

 

Disparado o melhor jogo da Copa da França, seguido de perto pela virada dos Bleus na semifinal, contra a Croácia, com dois gols de Thuram. Argentina e Inglaterra, principalmente depois da Guerra das Malvinas, sempre é um jogo nervoso. Em 86 e 90 (e depois de 98 mais um jogo, pela primeira fase em 2002) os embates já haviam sido históricos, mas este teve de tudo. De golaço do piá Owen a tentativa de assassinato de Southgate, com uma tesoura por trás em Simeone. E este já havia até cuspido na cara de um britânico.

 

Depois de uma prorrogação muito tensa, as famigeradas penalidades máximas. Mas as duas seleções mereciam seguir adiante no torneio. Crespo e Ince perderam, e Roa defendeu a última cobrança inglesa. Argentina nas quartas, onde travaria outro duelo histórico, desta vez perdendo por 2 a 1 para a Holanda, com um golaço de Dennis Bergkamp.

 

Argentina: Roa, Vivas, Ayala e Chamot; Zanetti (GOL), Almeyda, Simeone (Berti), Verón e Ortega; Batistuta (GOL) (Crespo) e Claudio López (Gallardo). Técnico: Daniel Passarella.

 

Inglaterra: Seaman; G. Neville, Adams e Campbell ; Anderton (Batty), Ince, Scholes (Merson), Le Saux ( Southgate ) e Beckham; Owen (GOL) e Shearer (GOL). Técnico: Glenn Hoddle.

 

2º – Alemanha 0 x 2 Itália – Copa da Alemanha, 2006, semifinal.

(Dia 4 de julho de 2006, no Westfalenstadion, em Dortmund).

 

Uma semifinal envolvendo dois times tri campeões mundiais, na casa de um deles. Dizer que foi um jogo nervoso é chover no molhado. A Alemanha havia eliminado a Argentina uma fase antes nos pênaltis e chegava com moral elevado. A Itália vinha aos trancos e barrancos durante toda competição, como quase sempre acontece com a Squadra Azzurra.

 

Se os dois selecionados tinham chegado desacreditados para a Copa, agora isso era passado. No tempo normal nada de gols, mas os donos da casa pressionavam. O jogo era muito bom, mas ninguém se permitia a possibilidade do erro. Aos 118 minutos de jogo, Pirlo com um passe magistral encontra Grosso na área. O lateral pega de primeira um “canhotaço de esquerda”, como dizia Januário de Oliveira, e cala um país inteiro. Dois minutos depois Del Piero aproveita o desespero alemão e decreta o fim do sonho germânico. E a Squadra seguia rumo ao tetra.

 

Alemanha: Lehman; Friedrich, Metzelder, Mertesacker; Lahm, Schneider (Odonkor), Ballack, Kehl, Borowski (Schweinsteiger); Klose (Neuville) e Podolski. Técnico: Jürgen Klinsmann.

 

Itália: Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Materazzi e Grosso (GOL); Gattuso, Perrotta (Del Piero GOL), Pirlo e Camoranesi (Iaquinta); Totti e Luca Toni (Gilardino). Técnico: Marcelo Lippi.

 

1º – Brasil 3 x 2 Holanda – Copa dos Estados Unidos, 1994, quartas de final.

(Dia 09 de julho de 1994, no estádio Cotton Bowl, em Dallas).

 

Note a quantidade de jogadores muito acima da média em campo neste jogo: Taffarel, Raí, Bebeto, Romário, Rijkaard, Koeman, Overmars e Bergkamp. Pelo menos dois desses são CRAQUES. 5 gols em um tempo, com jogadas polêmicas, marcação forte, gols bonitos… Tudo que um jogo de Copa clássico tem que ter, e foi no “fraco” Mundial dos Estados Unidos!

 

O Brasil ainda venceria a Suécia pelo placar mínimo (cabeçada desafiadora das leis da gravidade do Baixinho) e faria a final com a Itália. E o final todo mundo conhece…

 

Brasil: Taffarel; Jorginho, Márcio Santos, Aldair e Branco (GOL) (Cafu); Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto (GOL) e Romário (GOL). Técnico: Carlos Alberto Parreira.

 

Holanda: Ed de Goey; Frank Rijkaard (Ronald de Boer), Ronald Koeman, Stan Valckx, Rob Witschge; Jan Wouters, Wim Jonk, Aron Winter (GOL); Overmars, Bergkamp (GOL), Peter van Vossen (Bryan Roy). Técnico: Dick Advocaat.

 

Para saber mais

http://selecaoargentina.blogspot.com

www.zerozero.pt

http://esportes.terra.com.br/futebol/copa2006

 

Felipe Conti é colorado, gaúcho, canoense, goleiro, esquerdista, aspirante a jornalista. Nascido para ser do contra, desde março de 86. Escreve costumeiramente no Grenalzinto e é titular das sextas aqui do Tisserand.

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A melhor Copa debuta

Dia 17 de julho fez 15 anos do Tetra brasileiro nos Estados Unidos. Ainda que com atraso, reforço o apreço que tenho por aquela Copa, republicando o texto que iniciou a série de crônicas minhas sobre o Mundial de 1994.

 

A melhor Copa

A Copa de 1994 foi a melhor de todas. Pelos menos pra geração que nasceu em meados dos anos 80. Essa que caminha entre os vinte e três e os vinte seis anos. Foi o primeiro mundial que vi sabendo o que estava acontecendo naquela tela verde com onze caras pra cada lado, duas goleiras e uma bola. Tinha nove anos. O Brasil não ganhava uma Copa havia vinte e quatro. E ninguém estava disposto a esperar até 1998 pra experimentar essa sensação.

 

A Copa de 1994 foi a mais colorida de todas. Basta ver o filme sobre ela e comparar com as que vieram antes e depois. Talvez ache isso pelo fato de ser uma criança à época – sim, na minha geração, quem tinha nove anos era criança – e carregar uma inocência que fazia os cheiros, as cores e cada instante daqueles anos adquirirem uma importância pontual, separada do resto e melhor que hoje. Deve ser assim com toda criança. O fato é que nenhuma Copa foi ou será melhor que aquela para mim. E sempre conservei os melhores lances da competição, sobretudo os jogos do Brasil – mas também jogadores de outras seleções – craques de continentes distantes, com a certeza de que tinha que escrever algo sobre.

 

E é isso que começo a partir de hoje. Inicio uma série de crônicas sobre os principais jogadores da Copa de 1994. Algo despretensioso, tanto que não está amparado em nenhuma data comemorativa ou no famigerado gancho jornalístico; só a pura e simples lembrança. E nada de biografias enfadonhas ou fichas técnicas burocráticas. Mas textos que acumulem em si informações básicas sobre o jogador, a participação dele na Copa e o estilo de jogo, além de uma ou outra peculiaridade ou extravagância.

 

A abundância de acimas-da-média e figuras insólitas no torneio contribuem pra isso. Nem só as seleções tradicionais possuíam seus exemplares de extra-classe. Equipes menores também desfilavam suas jóias: os canhotos Stoichkov, na Bulgária, e Hagi, na Romênia; Rincón e Valderrama, na Colômbia; Brolin e Dahlin, na Suécia; Okocha, na Nigéria; Preud’ Homme, goleiro belga; Al-Owairan, saudita autor do gol mais bonito do torneio. Além dos protagonistas, craques dos times grandes: Romário, Mathäus, Maradona – aliás, a última dele -, Baggio, Klinsmann, Taffarel, Bergkamp, Baresi e outros tantos que agora me escapam, mas que serão contemplados.

 

A série não será disciplinada. Ocupará meu quinhão no blog intercalada com postagens sobre o restante do universo do futebol. Sem pressa. Apalpando a memória com o cuidado que essas lembranças merecem. Com a lentidão e a paciência que qualquer nostalgia deve ser tratada. Mesmo a nostalgia daqueles que nem viveram tanto.

 

Guilherme

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FifaFever

 

O futebol deixou de ser apenas um esporte para tornar-se fenômeno social há muito tempo. E talvez a Copa do Mundo seja a síntese dessa afirmação. Para entender isso, o livro Futebol ao Sol e à Sombra, do uruguaio Eduardo Galeano, é a fonte ideal. Mas quem quer apenas admirar lances, times campeões e ídolos, sem muita preocupação com o que não está sendo dito ou a forma com que está sendo, existe um documentário imperdível.

 

FIFA Fever (2005, 195 minutos, narração em português do inacabável Orlando Duarte e sim, foi produzido nos States) é um documentário que pretende comemorar o centenário da entidade máxima do futebol – 1904 / 2004 – contando histórias de todas as copas disputadas até aquele momento, desde 1930 até 2002. A Hungria de 54, a Holanda de 74 e 78, o Brasil de 58, 70, 82 e 94, a Argentina de 86, a Alemanha de 90… Todos esses grandes times famosos estão lá, mas lado a lado com ilustres desconhecidos. Para alguns isso tira o brilho do projeto. Para outros este fato torna este documentário muito mais saboroso.

 

Confesso que pensei em apontar alguns pontos negativos do filme, como o pouco tempo destinado à grandes craques e para jogos clássicos e finais. Mas imagine ter de contar a história das Copas em duas horas, que é o tempo do documentário sem os extras? Tarefa inglória e que nunca agradaria a todos. Pensei também em elogiar muito a produção, mas com o material que os velhinhos lá da Suíça liberaram pros produtores, era praticamente IMPOSSÍVEL fazer algo ruim. Mais ou menos como um diretor de cinema estragar um filme do gênero “assaltantes charmosos, corajosos e sedutores”. Tem que se esforçar para conseguir!

 

 

O filme é dividido em várias capítulos e listas dos 10 mais, que vão auxiliando na amarração da narrativa. Desde os óbvios maiores técnicos (Zagallo, Guus Hiddink, Bora Milutinovic, Bilardo…), goleiros e defesas monumentais, (Yashin, Kahn, Carbajal, Banks…) e craques com lances de encher os olhos (Pelé, Maradona, Cruyff, Platini, Zidane), até listas inusitadas e com lances e imagens pouco vistas, como os 10 maiores gols de fora da área e as dez maiores “trapalhadas” (Gíria Sessão da Tarde), tudo bem ao estilo americanóide de ver o Soccer.

 

Mas dois capítulos em especial chamam a atenção, até pela estranheza: vários minutos falando sobre as Copas do Mundo de futebol feminino (domínio total dos EUA, daí o fato de darem tanta importância) e sobre os Mundiais Sub-20! Como Brasil e Argentina são os focos deste segmento, é possível reconhecer vários jogadores que hoje são estrelas, outros que até já pararam e alguns que sumiram do mapa. Alguns exemplos: D’alessandro, Saviola, Pablo Aimar, Nilmar, Daniel Carvalho, Ronaldinho Gaúcho, Dudu Cearense, Norton, Dunga, Simeone e por aí vai…

 

FIFA Fever é um belo documentário sobre futebol. Porém é indispensável para quem gosta do esporte mais popular do planeta (há controvérsias…) pelas imagens inéditas dos mundiais disputados na primeira metade do século. Gols de jogos obscuros do torneio disputado no Brasil em 1950 são apenas um aperitivo para cenas recuperadas da Copa de 1930, a primeira, jogada no e vencida pelo Uruguai. E ainda algumas imagens da Celeste Olímpica de Andrade “Maravilha Negra”, campeã dos Jogos de 1924 e 1928. Emocionante para quem só conhece esses jogadores pelas páginas de livros, como o de Galeano.

 

Felipe Conti é colorado, gaúcho, canoense, goleiro, esquerdista, aspirante a jornalista. Nascido para ser do contra, desde março de 86. Escreve costumeiramente no Grenalzinto e, a partir de hoje, é titular das sextas aqui do Tisserand.

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For the left, for the right, in the middle...

For the left, for the right, in the middle...

 

Enfim, chegamos à esperada final da Copa das Confederações, ainda que com um equino de pelo listrado em preto e branco. Falo do Brasil, que surpreendeu os donos da casa com o 1 a 0 peleado, quando as senhoras e os senhores noveleiros já se lamentavam pela prorrogação iminente. Lá na quarta-feira, os Estados Unidos confirmaram a superioridade econômica e bélica mundial – o que leva muitos a lhes imputarem a pecha de imperialista – também no futebol, e derrotou os bambambans espanhóis com um 2 a 0 escorreito.

 

África do Sul 0 x 1 Brasil

O jogo foi assombrado pelos resultados surpreendestes que se estenderam por todo torneio, visto que Itália, Egito, de curiosa mutação zebra/favorito/eliminado, e Espanha haviam despencado do pedante salto alto não fazia muito tempo. Mas mesmo com as Vuvuzelas, mesmo com a empolgação comovente de jogadores e torcedores sulafricanos, mesmo com o nó de marinheiro tático do professor de inglês e técnico Joel for the Left Santana, mesmo assim o Brasil chegou à final.

 

A partida arrastou-se espinhosa, chances empilhando-se nas pranchetas para ambos os lados e os brasileiros encontrando mais dificuldade do que estavam acostumados. Quando chegávamos ao final, Dunga consultou alguma bola de cristal, astros, búzios ou algum crioulo pai de santo e visionário escondido nalgum canto da casamata, que lhe soprou o nome de Daniela Alves. O sobrinho do Shrek ingressou no lugar de André Santos e acertou um daqueles chutes que te fazem perder a consciência depois que vê a bola chegar às redes, seja na pelada do society com amigos bebuns, seja numa competição da Fifa.

 

Espanha 0 x 2 Estados Unidos

 

Eles querem o futebol

Eles querem o futebol

 

O imperialismo estadunidense tem um novo alvo: it’s the soccer, man! Depois de se fazer de Homer Simpson nas primeiras partidas, babando, arrotando cerveja e raciocinando com alguma lentidão, os americanos deixaram o fast food de lado e fizeram da seleção espanhola o que poucos esperavam. Permitiram a meia cancha inimiga trocar aqueles passes inofensivos e enfeitados em sua intermediária, inverterendo o jogo lentamente até parte do campo de Obama. Assim que tentavam avançar sobre a Casa Branca, defensores organizados expulsavam as investidas de Xavi, Fernando Torres e Villa.

 

Nos contra-ataques, os americanos chegaram aos dois gols: Altidore, num giro a la Ronaldo para cima de Piquet e concluindo no canto de Casilas; e Dempsey, depois da eficiente e curiosa assistência do anestesiado e adversário Sergio Ramos.

 

Domingo o Brasil reencontra os Estados Unidos, time que goleou na primeira fase. Resta a Dunga se convecer de que tem pela frente o Capitão América, e não o incauto Homer Simpson de outrora.

 

Foto: Joel: terra.com.br; Tio Sam: globoesporte.com.

 

Guilherme

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Como Roberto Freire já dizia

Como Roberto Freire já dizia

 

Hoje à noite a Seleção Brasileira volta a campo pelas Eliminatórias da Copa da África do Sul, o que garantirá à Rede Globo uma audiência ainda maior que na novela Caminho das Índias, por pelo menos mais duas horas. Ao contrário da maioria dos brasileiros, creio eu, não vejo a menor graça em assistir aos jogos da seleção.

 

E não pense que se trata de um anti-patriotismo, ou de bairrismo radical, onde muitos dizem que são gaúchos primeiro, antes de ser brasileiro. A questão é que jogo do Brasil é sem graça, morno, como uma cravada por obrigação.

 

É bem provável que o elenco milionário de Dunga atropele os paraguajos com certa facilidade. Ou não. Não fará diferença alguma. No máximo, um pequeno divertimento ao ver os craques colorados em campo.

 

Frequentador assíduo do estádio do time que mais marcou gols em 2009, bem sei como o ser humano se transforma quando é chegado o grande momento, como diria o Alexandre Santos. Um sentimento que toma conta dos organismos de milhares que passam a urrar como bichos e chorar como recém nascidos. Com o Brasil, o máximo que consigo são três palmas tímidas de felicitação. Falta algo. Uma cumplicidade, uma doação durante as partes, elo que nunca existiu.

 

Razão inequívoca para torcer contra o Brasil

Razão concreta para torcer contra o Brasil

 

“Nunca diga nunca”, essas sábias palavras, dita pelo Bloommer, o bichinho mágico da Punky, a levada da Breca, tem um fundo de verdade. Em meados de 94, torci pelo Brasil na Copa dos Estados Unidos, época em que o gordo Ronaldo ainda era franzino. Enchi os olhos d’água com o gol do Branco, contra a Holanda; ergui o dedo do meio para o Ravelli quando o Romário marcou e garantiu a vaga na final; e me arrependo até hoje de ter ido buscar água com açúcar para a tia Adir e perder a cobrança do Baggio. Enquanto servia o copo, ouvia os gritos esganiçados do Galvão “é teeetraaaa…” Naquela Copa, encerrei minha trajetória com a seleção.

 

Mesmo após estas belas lembranças, a vontade de assistir ao jogo de hoje à noite continua a mesma: nenhuma. Por sorte, o articulista azul do TFC analisará a partida e dará pertinentes comentários da Seleção Canarinho quando raiar o sol de meio-dia de sexta-feira (Caro, leitor, amanhã é feriado, e a boemia nos chama. Mas não se preocupe, o post de quinta-feira está garantido).

 

Hein?

Brasil x Paraguai

 

E daí?

Quarta-feira, 21h50min.

 

Tá, mas se eu quiser dar uma olhadinha?!

Canal 12 (não é propaganda, mas é bem mais engraçada a transmissão).

 

Palpite

Vitória do Paraguai (antes de qualquer faniquito, adianto que só seco a Azenha e o Ju).

 

Fotos: livro:produto.mercadolivre.com.br; Paraguaia: newserrado.com.

 

Fabio

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No adormecido blog Futebol Diário, iniciei uma série de crônicas sobre a Copa de 1994. Empreitada que recomeço hoje. Já havia publicado quatro textos da série lá. Eles serão postados novamente; agora, aqui no Tisserand. Ao final deles, as crônicas passam a ser inéditas.

 

O baixinho e o anão; e Marcio Santos fingindo não ser fotografado

O Baixinho e o Anão (à frente); e Marcio Santos finge não ser fotografado (no fundo)

 

A Copa de 1994 foi a melhor de todas. Pelos menos pra geração que nasceu em meados dos anos 80. Essa que caminha entre os vinte e três e os vinte seis anos. Foi o primeiro mundial que vi sabendo o que estava acontecendo naquela tela verde com onze caras pra cada lado, duas goleiras e uma bola. Tinha nove anos. O Brasil não ganhava uma Copa havia vinte e quatro. E ninguém estava disposto a esperar até 1998 pra experimentar essa sensação.

 

A Copa de 1994 foi a mais colorida de todas. Basta ver o filme sobre ela e comparar com as que vieram antes e depois. Talvez ache isso pelo fato de ser uma criança à época – sim, na minha geração, quem tinha nove anos era criança – e carregar uma inocência que fazia os cheiros, as cores e cada instante daqueles anos adquirirem uma importância pontual, separada do resto e melhor que hoje. Deve ser assim com toda criança. O fato é que nenhuma Copa foi ou será melhor que aquela para mim. E sempre conservei os melhores lances da competição, sobretudo os jogos do Brasil – mas também jogadores de outras seleções – craques de continentes distantes, com a certeza de que tinha que escrever algo sobre.

 

E é isso que começo a partir de hoje. Inicio uma série de crônicas sobre os principais jogadores da Copa de 1994. Algo despretensioso, tanto que não está amparado em nenhuma data comemorativa ou no famigerado gancho jornalístico; só a pura e simples lembrança. E nada de biografias enfadonhas ou fichas técnicas burocráticas. Mas textos que acumulem em si informações básicas sobre o jogador, a participação dele na Copa e o estilo de jogo, além de uma ou outra peculiaridade ou extravagância.

 

A abundância de acimas-da-média e figuras insólitas no torneio contribuem pra isso. Nem só as seleções tradicionais possuíam seus exemplares de extra-classe. Equipes menores também desfilavam suas jóias: os canhotos Stoichkov, na Bulgária, e Hagi, na Romênia; Rincón e Valderrama, na Colômbia; Brolin e Dahlin, na Suécia; Okocha, na Nigéria; Preud’ Homme, goleiro belga; Al-Owairan, saudita autor do gol mais bonito do torneio. Além dos protagonistas, craques dos times grandes: Romário, Mathäus, Maradona – aliás, a última dele -, Baggio, Klinsmann, Taffarel, Bergkamp, Baresi e outros tantos que agora me escapam, mas que serão contemplados.

 

A série não será disciplinada. Ocupará meu quinhão no blog intercalada com postagens sobre o restante do universo do futebol. Sem pressa. Apalpando a memória com o cuidado que essas lembranças merecem. Com a lentidão e a paciência que qualquer nostalgia deve ser tratada. Mesmo a nostalgia daqueles que nem viveram tanto.

 

Foto: Correioweb.com

 

Guilherme

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